Brasil

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O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo com 180 milhões de habitantes. É também o quinto maior país do mundo em superfície, com 8.511.965 km2. O Brasil tem 14.691 kms de fronteiras terrestres com todos os países da América do Sul, excepto Equador e Chile. A costa brasileira tem 7.491 km, constituída principalmente por praias de mar aberto. A capital é Brasília e as maiores cidades são São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife.

O Brasil encontra-se política e geograficamente dividido em cinco regiões distintas, que possuem traços comuns no que se refere aos aspectos físicos, humanos, económicos e culturais. Os limites de cada região – Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste – coincidem sempre com as fronteiras dos Estados que as compõem.

A região Norte é a que ocupa a maior parte do território brasileiro, com uma área que corresponde a 45,27% da área total do país. Formada por sete Estados – Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Tocantins e Amapá – tem a sua área quase totalmente dominada pela bacia do Rio Amazonas. Está localizada entre o maciço das Guianas, ao Norte; o Planalto Central, ao Sul; a Cordilheira dos Andes, a Oeste; e o Oceano Atlântico, a Noroeste. De clima equatorial, é banhada pelos grandes rios das bacias Amazónica e do Tocantins. A região Norte tem 7,6 milhões de habitantes. Belém, capital do Estado do Pará, é a sua maior metrópole.
A economia baseia-se na extracção vegetal de produtos como látex, açaí, madeiras e castanha; na extracção mineral de ouro, diamantes, cassiterita e estanho; e na exploração de minérios em grande escala.

A região Nordeste pode ser considerada a mais heterogénea do País. Dividida em quatro grandes zonas – meio-norte, zona da mata, agreste e sertão – ocupa 18,26% do território nacional e tem nove estados – Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia – ocupando 18,26% da área total do País. A maior parte de seu território é formada por extenso planalto, antigo e aplainado pela erosão. A faixa de transição entre o sertão semi-árido do Nordeste e a região Amazónica denomina-se meio-norte, apresentando clima bem mais húmido e vegetação exuberante à medida que avança para o Oeste. A zona da mata estende-se do Estado do Rio Grande do Norte ao sul do Estado da Bahia, numa faixa litoral de até 200 km de largura. O solo dessa área é fértil e a vegetação natural é a Mata Atlântica, já praticamente extinta e substituída pela cultura de cana-de-açúcar. O agreste é a área de transição entre a zona da mata, região húmida e cheia de brejos, e o sertão semi-árido. Nessa sub-região os terrenos mais férteis são ocupados por minifúndios, onde predominam as culturas de subsistência e a pecuária leiteira. Já o sertão, uma extensa área de clima semi-árido, chega até o litoral, nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Os solos dessa sub-região são rasos e pedregosos, as chuvas escassas e mal distribuídas e as actividades agrícolas sofrem grande limitação. A vegetação típica do sertão é a caatinga. O rio São Francisco é o maior da região e única fonte de água perene para as populações que habitam as suas margens. A economia do sertão nordestino baseia-se na pecuária extensiva e no cultivo de algodão em grandes propriedades de terra, com baixa produtividade.
A população do Nordeste é de 46 milhões de habitantes, cerca de 28,9% do total do país. As principais metrópoles regionais são as cidades de Salvador, Recife e Fortaleza.
A economia da região Nordeste baseia-se primordialmente na agroindústria do açúcar e do cacau, e recentemente da fruticultura. O petróleo é explorado no litoral e na plataforma continental. O sector do turismo vem crescendo consideravelmente nos últimos anos.

No Sudeste, região de maior importância económica do País, está concentrado também o maior índice populacional – 70 milhões de habitantes representando 42,63% da população brasileira – e produção industrial. É formada por quatro estados – Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo – ocupando 10,85% do território brasileiro. Situa-se na parte mais elevada do Planalto Atlântico, onde estão as serras da Mantiqueira, do Mar e do Espinhaço. Sua paisagem típica apresenta formações de montanhas arredondadas, chamadas “mares de morros” e os “pães de açúcar”, que são montanhas de agulhas graníticas. O clima predominante no litoral é o tropical atlântico e nos planaltos o tropical de altitude, com geadas ocasionais. A mata tropical que existia originalmente no litoral foi devastada no período de ocupação do território, dando lugar a plantações de café. No Estado de Minas Gerais predomina a vegetação de cerrado, sendo que no vale do rio São Francisco e no norte do Estado encontra-se a caatinga, vegetação típica do sertão nordestino. O relevo planáltico do Sudeste fornece grande potencial hidroeléctricoà região, quase todo aproveitado. Encontram-se ainda na região Sudeste as nascentes de duas importantes bacias hidrográficas do País: a bacia do rio Paraná, que se origina da união dos rios Paranaíba e Grande, próxima à região conhecida como Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais, e a do rio São Francisco, que nasce na serra da Canastra, também no Estado de Minas Gerais.
O Sudeste abriga as duas mais importantes metrópoles nacionais, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, localizadas em Estados com os mesmos nomes.
A sua economia é a mais desenvolvida e industrializada das economias das cinco regiões, nela se concentrando mais da metade da produção do País. Possui ainda os maiores rebanhos bovinos, além de significativa produção agrícola, que inclui o cultivo de cana-de-açúcar, laranja e café, em lavouras de bom padrão técnico e alta produtividade.

O Sul, região mais fria do País, com ocorrências de geadas e neve, é a que apresenta menor área, ocupando 6,75% do território brasileiro e com apenas três Estados – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os rios que cortam sua área formam a bacia do Paraná em quase toda sua totalidade e são de grande importância para o País, principalmente pelo seu potencial hidroeléctrico, destacando-se a usina de Itaipu, localizada no rio Paraná, na fronteira com o Paraguai. As regiões de planaltos mais elevados apresentam temperaturas baixas, com nevascas ocasionais, e a região da planície dos Pampas, mais ao sul, apresenta temperaturas mais elevadas. A vegetação acompanha essa variação da temperatura, ou seja, nos locais mais frios predominam as matas de araucárias (pinhais) e nos pampas, os campos de gramíneas.
A população totaliza 24,2 milhões de habitantes, com expectativa de vida de 68,68 anos, a maior do Brasil. Na região encontram-se traços marcantes da influência da imigração alemã, italiana e açoriana.
Inicialmente baseada na agro-pecuária, a economia da região Sul desenvolveu nas últimas décadas importante parque industrial, cujos centros se encontram nas áreas metropolitanas das cidades de Porto Alegre e Curitiba. A produção agrícola utiliza modernas técnicas de cultivo, destacando-se o trigo, soja, arroz, milho, feijão e tabaco, entre os principais produtos comercializados. A suinocultura é praticada no oeste do Estado de Santa Catarina e no Estado do Paraná. Neste último também é significativa a extracção de madeira de pinho. No Estado de Santa Catarina existem reservas de carvão mineral e indústrias de processamento de carnes, que produzem não apenas para o mercado interno, mas também para exportação.

A região Centro-Oeste tem a sua área dominada basicamente pelo Planalto Central Brasileiro e pode ser dividida em três porções: maciço goiano-mato-grossense, bacia de sedimentação do Paraná e as depressões. Formado por quatro Estados – Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e o Distrito Federal – esta região vem sofrendo alterações significativas na sua cobertura vegetal, com o cerrado sendo substituído gradualmente por plantações ou criação de gado em função do processo de ocupação nesta parte do Brasil. A região Centro-Oeste ocupa 18,86% do território brasileiro. Localizada no extenso Planalto Central, o seu relevo caracteriza-se pela predominância de terrenos antigos e aplainados pela erosão, que deram origem a chapadões. Na parte oeste do Estado de Mato Grosso do Sul e sudoeste do Estado de Mato Grosso encontra-se a depressão do Pantanal Matogrossense, cortada pelo rio Paraguai e sujeita a cheias durante parte do ano. A vegetação do Pantanal é extremamente variada e sua fauna de uma riqueza muito grande. Já na região de planalto, predomina a vegetação de cerrado. A população é de 11 milhões de habitantes.
A economia baseou-se, inicialmente, na exploração de garimpos de ouro e diamantes e foi, gradualmente, sendo substituída pela pecuária. A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, em 1960, e a construção de ferrovias que facilitaram o acesso em direcção ao oeste, aceleraram o povoamento da região, contribuindo para o seu desenvolvimento. O turismo como actividade económica vem-se desenvolvendo rapidamente na região, atraindo visitantes de várias partes do mundo, que procuram desfrutar da riqueza da flora e da fauna do Pantanal.

O Brasil é dotado de uma vasta e densa rede hidrográfica, sendo que muitos dos seus rios destacam-se pela extensão, largura e profundidade. As principais bacias hidrográficas são:
– Bacia do rio Amazonas – tem uma extensão de aproximadamente 6.500 km. Com uma área de 5,8 milhões de km2, dos quais 3,9 milhões no Brasil, representa a maior bacia hidrográfica mundial. O volume de água do rio Amazonas é extremamente elevado, descarregando no Oceano Atlântico aproximadamente 20% do total que chega aos oceanos em todo o planeta. O seu caudal é superior à soma dos caudais dos seis próximos maiores rios. Tal volume de água é o resultado do clima tropical húmido característico da bacia, que alimenta a maior floresta tropical do mundo. Entre seus principais afluentes, destacam-se os rios Iça, Japurá, Negro e Trombetas, na margem esquerda, e os rios Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu, na margem direita.
– Bacia do rio Tocantins/Araguaia – constitui na maior bacia hidrográfica inteiramente situada em território brasileiro. O rio Tocantins desemboca no delta amazónico.
– Bacia do rio São Francisco – nasce em Minas Gerais, na serra da Canastra, e atravessa os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. O rio São Francisco, com uma extensão de 3.160 km, tem uma grande importância política, económica e social, principalmente para a região nordeste do país.
– Bacia Platina – é constituída pelas sub-bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, drenando áreas do Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. O rio Paraná possui cerca de 4.900 km de extensão, sendo o segundo em comprimento da América do Sul. É formado pela junção dos rios Grande e Paranaíba. Possui como principais tributários os rios Paraguai, Tietê, Paranapanema e Iguaçu.

O ponto mais elevado no Brasil é o Pico da Neblina, com 3.014 m de altura.

Curiosidade

Expressões do Português do Brasil

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História

Os povos indígenas foram os primeiros habitantes do Brasil; incluíam os grupos aruaques e caribes no norte, os tupi-guarani na costa leste e no vale do rio Amazonas, os ge no leste e no sul do Brasil e os pano no oeste. Na sua maioria, esses grupos eram essencialmente semi-nómadas, viviam da caça, da colheita dos frutos e de uma agricultura de subsistência. Localizados nas áreas mais remotas do interior, mantiveram sua forma de vida tradicional até o final do século XIX, quando sua existência se viu ameaçada pelo avanço da civilização.

Em Abril de 1500, o navegador português Pedro Álvares Cabral alcançou a costa do actual Brasil e reclamou formalmente toda a região em nome de Portugal. O território foi denominado Terra de Vera Cruz. Uma expedição liderada por Gaspar de Lemos e da qual fazia parte o navegador florentino Américo Vespúcio foi enviada à Terra de Vera Cruz pelo governo português em 1501. No curso da sua exploração, baptizaram muitos cabos e baías, incluindo uma baía que foi denominada de Rio de Janeiro. A Terra de Vera Cruz passou a chamar-se Santa Cruz e, finalmente, Brasil, em alusão ao pau-brasil, árvore que abundava na região. Anos antes, exactamente em 1494, Portugal e Espanha tinham assinado o Tratado de Tordesilhas, pelo qual foi fixado o primeiro território limitado ao norte onde é hoje Belém, na foz do rio Amazonas, e ao sul onde é hoje Laguna, em Santa Catarina.

Em 1530, o rei português João III iniciou um programa de colonização sistemática do território que se iniciou na fundação de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo. Como primeiro passo, dividiu o Brasil em 15 capitanias e concedeu cada uma delas a uma pessoa importante da corte portuguesa. Os donatários tinham total poder sobre seus domínios. Por causa dos ataques franceses ao longo da costa brasileira, o rei revogou a maioria dos poderes concedidos aos donatários e nomeou um governador-geral para o Brasil. O primeiro governador-geral, Tomé de Souza, chegou ao Brasil em 1549 e organizou um governo central, cuja capital foi fixada na recém-fundada cidade de Salvador, iniciou amplas reformas administrativas e judiciais e estabeleceu um sistema de defesa do litoral. A cidade de São Paulo, no sudeste do país, foi fundada em 1554. Em 1555, os franceses fundaram uma colónia nas costas da baía do Rio de Janeiro que foi destruída pelos portugueses em 1560, tendo estes estabelecido em 1567 nesse lugar a cidade do Rio de Janeiro

Felipe II da Espanha herdou a coroa portuguesa em 1580. O período de domínio espanhol foi marcado pelos frequentes ataques dos ingleses e holandeses, tradicionais inimigos da Espanha, ao Brasil. Uma frota holandesa ocupou a Bahia em 1624, mas a cidade foi recuperada por uma força combinada de espanhóis, portugueses e nativos no ano seguinte. Os holandeses atacaram novamente em 1630 e uma expedição patrocinada pela Companhia das Índias Ocidentais da Holanda assumiu o controle das cidades de Recife e Olinda, em Pernambuco. Posteriormente, a maior parte do território entre a ilha do Maranhão e o rio São Francisco caiu em mãos holandesas. Durante a inteligente administração do conde Maurício de Nassau, o território brasileiro sob o domínio holandês prosperou durante vários anos. Nassau, entretanto, renunciou em 1644, indignado com a política de exploração da Companhia das Índias Ocidentais da Holanda. Pouco depois de sua saída, os colonizadores portugueses, com apoio do seu país natal, revoltaram-se contra o domínio holandês. Os holandeses renderam-se em 1654, depois de uma guerra que se estendeu durante quase uma década e em 1661 assinaram um tratado no qual renunciavam às suas pretensões ao território brasileiro.

Com a triunfal revolta em Portugal contra a soberania espanhola em 1640, o Brasil voltou a ser uma colónia portuguesa. Em geral, portugueses e espanhóis mantiveram relações pacíficas na América do Sul até 1680. Nesse ano, os portugueses enviaram uma expedição para o sul da margem leste do estuário do Rio da Prata e fundaram um povoamento chamado Colónia do Sacramento. Começou aí um prolongado período de conflitos pela posse da região, que veio a tornar-se a República do Uruguai em 1828.

A expansão brasileira para o sul foi precedida pela penetração nas regiões do interior do país. Os missionários jesuítas começaram a desenvolver sua tarefa evangelizadora no vale do Amazonas no início do século XVII. Antes de meados do século, os bandeirantes paulistas, nome pelo qual os residentes de São Paulo eram conhecidos, chegaram ao rio Paraná. Como essas expedições tinham como objectivo principal caçar e escravizar os indígenas, os paulistas encontraram uma oposição vigorosa dos jesuítas. A coroa apoiou os seus esforços e os jesuítas triunfaram. Posteriormente, os paulistas tornaram-se exploradores e começaram uma febril busca pelas riquezas minerais. Em 1693, descobriram ricos depósitos de ouro na região da actual Minas Gerais. A febre do ouro atraiu dezenas de milhares de colonos portugueses para o Brasil. A expansão económica da colónia acelerou principalmente devido ao descobrimento de diamantes em 1721.

Em 1750, o Tratado de Madrid entre Espanha e Portugal ratificou as reclamações brasileiras de uma ampla região a oeste dos limites promulgados no Tratado de Tordesilhas . O Tratado de Madrid foi anulado anos depois, mas seus princípios foram mantidos no Tratado de Santo Ildefonso de 1777.

O secretário de Estado (ministro) de Assuntos Externos de Portugal e primeiro-ministro, Marquês de Pombal, realizou diversas reformas no Brasil durante o reinado do rei José I. Ele libertou os escravos indígenas, estimulou a imigração, reduziu os impostos, diminuiu o monopólio real sobre o comércio exterior brasileiro, centralizou o aparato governamental e transferiu a sede do governo da Bahia para o Rio de Janeiro em 1763. Devido à sua influência entre os indígenas e ao seu crescente poder económico, Pombal expulsou os jesuítas em 1760, o que provocou diversos problemas, como por exemplo uma grande crise no sistema educativo, controlado por eles.

As Guerras Napoleónicas alteraram profundamente o curso da história brasileira. Em 1807, Napoleão enviou um exército para Portugal através da fronteira espanhola. O regente português, o príncipe João, e a maior parte de sua corte fugiram de Lisboa pouco antes da chegada do exército francês em direcção ao Brasil. O príncipe João transformou o Rio de Janeiro na sede do governo real de Portugal e decretou uma série de reformas e melhorias para o Brasil, entre as quais se destaca a chamada Abertura dos Portos. Essas medidas beneficiaram a agricultura e a indústria, além de contribuírem para a criação de escolas de ensino superior.

O príncipe João herdou a coroa portuguesa como João VI em março de 1816. Cinco anos antes de seu retorno a Portugal, seu governo perdeu de forma progressiva o apoio dos brasileiros. A corte era corrupta e ineficiente, o que fez com que o sentimento republicano, influenciado pela Revolução Francesa e pelos movimentos emancipacionistas por meio dos quais as vizinhas colónias espanholas conquistaram a sua independência, se estendesse pelo país. Em 1816, Dom João interveio, ocupando a Banda Oriental (Uruguai), então sob o controle dos revolucionários hispano-americanos. Esmagou um levante revolucionário em Pernambuco no ano seguinte. A Banda Oriental foi anexada ao Brasil em 1821 e renomeada como província Cisplatina. Antes de partir para Portugal, em 1821, Dom João VI tornou seu filho, Dom Pedro, príncipe do Brasil. Em Portugal, no entanto, era grande a oposição às reformas que o rei promovera no Brasil; as Cortes, o órgão legislativo português, promulgaram as leis destinadas a devolver o status de colónia ao Brasil. Dom Pedro foi obrigado a voltar para a Europa. Em 1822, respondendo às súplicas dos nativos, Dom Pedro anunciou sua negativa de abandonar o Brasil. Convocou uma Assembléia Constituinte em junho e em setembro, quando os despachos de Portugal revelaram que as Cortes não fariam grandes concessões ao nacionalismo brasileiro, proclamou a independência do país, tornando-se o imperador do Brasil nesse mesmo ano. Todas as tropas portuguesas no Brasil foram forçadas a render-se no final de 1823.

O governante autocrático, Pedro I, perdeu grande parte do apoio popular durante o primeiro ano do seu reinado, devido às divergências dentro da Assembleia Constituinte. O imperador dissolveu-a em 1823 e promulgou uma Constituição em março de 1824. Em 1825, o Brasil entrou em guerra com a Argentina por causa do apoio que essa última estava a dar à rebelião da província da Cisplatina. A indefinição da guerra e a ajuda dos ingleses ajudaram a província Cisplatina a tornar-se independente, agora com o nome de Uruguai. Nos anos seguintes, cresceu a oposição popular a Pedro I que em abril de 1831 abdicou em favor de Pedro II, que na época tinha apenas cinco anos de idade. As regências governaram o Brasil durante quase uma década, período esse marcado pela turbulência política, com frequentes revoltas e levantamentos nas províncias. No final da década, um movimento para colocar o jovem imperador como líder do governo ganhou apoio popular e, em julho de 1840, o Parlamento brasileiro proclamou a maioridade de Pedro II.

Pedro II foi um dos monarcas mais inteligentes de sua época. Durante seu reinado, que se estendeu até quase o final do século, a população e a economia expandiram-se com taxas sem precedentes. A produção nacional cresceu mais de 900%. Foi construída uma rede de ferrovias. A principal decisão da política interna durante o reinado do imperador foi tomada devido às pressões para a abolição da escravatura no Brasil. O tráfico de escravos africanos foi proibido em 1853. Uma campanha organizada para a emancipação dos 2,5 milhões de escravos do Brasil foi promovida nos anos subsequentes. Os abolicionistas conseguiram sua primeira vitória em 1871, quando o parlamento nacional aprovou a legislação que declarava livres os filhos nascidos de mães escravas. Por várias razões, entre as quais se incluíam os sacrifícios ocasionados pela guerra contra os paraguaios, cresceu um forte sentimento republicano durante esse período. O liberalismo se estendeu durante os quinze anos subsequentes. Os escravos maiores de 60 anos foram alforriados em 1885. Em maio de 1888, todos os escravos ainda existentes foram libertados.

Instituída sem indemnização para os proprietários de escravos, a abolição da escravatura levou os grandes latifundiários a afastarem-se do governo. Além disso, enquanto sectores do clero faziam clara oposição a certas políticas de Pedro II e um grande número de importantes oficiais do Exército começavam uma surda conspiração, o movimento republicano ganhou força no seio do povo. Em novembro de 1889, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca liderou uma revolta militar que teve como desfecho a renúncia de Pedro II e a proclamação da República. Deodoro separou a Igreja do Estado e promoveu outras reformas republicanas. A redacção de uma Constituição foi completada em junho de 1890. Semelhante à Constituição dos Estados Unidos, entrou em vigor em fevereiro de 1891, transformando o Brasil numa república federal, oficialmente chamada Estados Unidos do Brasil. Deodoro foi eleito seu primeiro presidente.

Os primeiros anos da nova república foram marcados pela turbulência política, consequência natural de um país sem tradição democrática. Durante o ano de 1891, o autoritarismo do presidente Deodoro da Fonseca provocou uma forte oposição dentro do Congresso. No início de novembro, ele dissolveu o Congresso e assumiu o poder de forma ditatorial. Nesse mesmo mês, a marinha revoltou-se e depôs Deodoro da Fonseca. O vice-presidente Floriano Peixoto assumiu o seu lugar, mas os problemas continuaram: o seu governo, autoritário, foi contestado por revoltas militares e navais (1893-1894) e uma série de levantes no sul do Brasil. A ordem foi restaurada de forma gradual no país durante a administração do presidente Prudente José de Morais Barros, o primeiro governante civil da nação. A partir de 1898, quando Manuel Ferraz de Campos Sales, antigo governador de São Paulo, tornou-se presidente, foram adoptadas medidas enérgicas para reabilitar a combalida economia nacional. Campos Salles fez um grande empréstimo no exterior para fortalecer as finanças e expandir o comércio e a indústria brasileiros.

Cresceu a importância do café e da borracha para a economia do Brasil. Entre 1906 e 1910, uma grande queda dos preços do café no mercado mundial provocou uma grave crise no país. O preço da borracha brasileira começou a cair no final desse período. Depois do início da I Guerra Mundial em 1914, aumentou consideravelmente a participação do Brasil nos mercados mundiais de café, borracha e açúcar, aliviando as dificuldades económicas do país. O Brasil adoptou uma política de neutralidade nas primeiras etapas da guerra, mas, em consequência dos ataques alemães aos seus navios, rompeu as relações diplomáticas com a Alemanha em agosto de 1917. Em outubro, o Brasil entrou na guerra do lado dos aliados. As unidades navais brasileiras foram enviadas às regiões em conflito e o Brasil iniciou sua contribuição à guerra com alimentos e matérias-primas.

A crise económica de 1922 diminuiu a produção industrial e o governo teve que cortar gastos. Durante a administração de Washington Luiz Pereira de Souza, a crise económica agravou-se, o que provocou numerosas greves e um aumento da radicalização da vida política. As greves foram declaradas ilegais pelo governo em agosto de 1927 e foram adoptadas medidas rigorosas contra o comunismo.

Na disputa presidencial de março de 1930, o candidato da situação, Júlio Prestes, foi declarado o vencedor sobre Getúlio Vargas, um importante político com fortes posições nacionalistas do estado do Rio Grande do Sul. Vargas, no entanto, obteve o apoio de muitos líderes militares e políticos e liderou uma revolta contra o governo em outubro. Depois de três semanas de violentas lutas, o presidente Washington Luiz Pereira de Souza foi deposto e Vargas assumiu o poder. Em 1932, o regime de Vargas reprimiu uma enorme rebelião em São Paulo, a chamada Revolução Constitucionalista, depois de quase três meses de combates. Vargas acalmou em grande parte a agitação política no Brasil ao convocar uma Assembleia Constituinte em 1933. Entre os artigos da nova constituição promulgada em 1934, destacavam-se aqueles que reconheciam os direitos dos estados e estipulavam o sufrágio para as mulheres, a segurança social para os trabalhadores e a eleição dos futuros presidentes pelo Congresso. Em 17 de julho, Vargas foi eleito presidente.

No primeiro ano de sua administração constitucional, Vargas enfrentou uma forte oposição da ala radical do movimento sindical brasileiro. Fracassadas as revoltas organizadas pelos comunistas em Pernambuco e no Rio de Janeiro em novembro de 1935, durante a chamada Intentona Comunista, foi declarada a lei marcial e Vargas foi autorizado pelo Congresso a governar por decreto. Em novembro de 1937, quase às vésperas da eleição presidencial, Vargas dissolveu o Congresso e proclamou uma nova constituição na qual outorgava a si poderes absolutos e ditatoriais. Reorganizou o governo nos moldes dos regimes totalitários da Itália e da Alemanha, aboliu todos os partidos políticos e impôs a censura na imprensa e no sistema postal. O governo de Vargas, oficialmente chamado Estado Novo, continuou no poder apesar de negar-se a convocar um plebiscito nacional sobre a nova lei orgânica. Nenhuma data foi fixada para o plebiscito. Por meio de uma série de decretos, ampliou os direitos sociais dos trabalhadores; desse modo, Vargas obteve o apoio de uma parte considerável da população.

Apesar do carácter totalitário de seu regime, Vargas manteve relações cordiais com os Estados Unidos e outras democracias. No entanto, era bastante ambígua a sua postura diante do Terceiro Reich. Ele só se posicionou em 1942, depois do ataque de submarinos alemãs aos navios mercantes brasileiros. Começou aí a participação do Brasil na II Guerra Mundial. Ao colocar-se ao lado dos aliados na II Guerra Mundial, o Brasil obteve uma série de vantagens: a borracha e outras matérias-primas fundamentais para o esforço de guerra facilitaram a retomada do crescimento económico. As bases navais e aéreas, construídas em pontos estratégicos da costa, transformaram-se em importantes centros aliados na guerra anti-submarina com o controle do Atlântico Sul.

Entretanto, cresceu a insatisfação com a ditadura de Vargas. Em fevereiro de 1945, um grupo de proprietários de jornais influentes desafiou o governo, que foi forçado a suspender a censura à imprensa. Em 28 de fevereiro, o governo convocou eleições gerais para o ano seguinte. Gradualmente, foram eliminadas todas as restrições à actividade política. Em abril, todos os presos políticos, inclusive os comunistas, foram amnistiados.

Durante a campanha eleitoral, uma série de leis impopulares aprovadas pelo Executivo suscitou o temor de que Vargas tentaria manter-se no poder indefinidamente. Um golpe de estado militar em outubro de 1945 forçou Vargas a renunciar. Nas eleições nacionais realizadas em dezembro, o ex-ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, conquistou a presidência por uma grande maioria de votos. O congresso, novamente eleito, redigiu uma nova Constituição, aprovada em setembro.

Getúlio Vargas retornou ao poder como presidente em janeiro de 1951, depois de derrotar dois candidatos rivais por uma grande maioria de votos nas eleições realizadas em outubro do ano anterior. Vargas formou um gabinete de coligação com representações de todos os partidos maioritários. O governo tomou medidas imediatas para equilibrar o orçamento nacional e desenvolver um programa para reduzir o custo de vida, aumentar os salários e ampliar as reformas sociais. A inflação e o alto custo de vida, no entanto, persistiam. Em agosto de 1954, durante as eleições parlamentares ocorreu o Atentado da Toneleros que atingiu em cheio o Palácio do Catete, sede do governo: os comandos militares obrigaram Vargas a renunciar. Nas primeiras horas de 24 de agosto, Vargas concordou em entregar o poder ao vice-presidente João Café Filho. Vargas se suicidou poucas horas depois.

O ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, teve o apoio dos seguidores de Vargas e dos comunistas. Kubitschek ganhou as eleições para a presidência em outubro de 1955 e anunciou um ambicioso plano económico quinquenal de desenvolvimento. A partir desse momento, o Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos assumiu o controle da dívida externa brasileira, que chegava a mais de 150 milhões de dólares e, em setembro, foram aprovados os planos para uma nova capital federal em Brasília. O forte ritmo de desenvolvimento industrial diminuiu, no entanto, devido à queda dos preços do café no mundo em meados e final da década de 1950.

Jânio da Silva Quadros, ex-governador de São Paulo, tornou-se o presidente do Brasil em janeiro de 1961 e imediatamente implantou um austero programa económico. Ordenou uma redução dos gastos em cerca de 30% em todos os ministérios e promoveu demissões no funcionalismo público. O presidente Quadros renunciou ao seu cargo em agosto sem dar nenhuma explicação à nação, culpando apenas as “forças ocultas” que conspiravam contra o seu governo. Os líderes militares tentaram impedir a posse do então vice-presidente João Belchior Marques Goulart, alegando que ele era simpatizante do regime cubano de Fidel Castro. Chegou-se a um acordo, no entanto, quando o Legislativo brasileiro emendou a Constituição e introduziu o parlamentarismo no país, privando a Presidência de muitos de seus poderes; o poder executivo foi atribuído a um primeiro-ministro e a um gabinete, ambos oriundos do poder legislativo. Goulart tomou posse do cargo em setembro de 1961.

Um ano depois, Goulart convocou um plebiscito nacional, durante o qual o povo se manifestou favorável a um governo presidencialista. Em 1964, Goulart tentou aprovar no Congresso um programa de reformas básicas; essa legislação inaugurava uma série de direitos para as classes trabalhadoras, nacionalizou as refinarias de petróleo, expropriou as terras improdutivas e limitou as exportações. Em 31 de março, foi deposto por um golpe de estado militar e fugiu para o Uruguai. O marechal Humberto Castelo Branco, comandante-em-chefe das Forças Armadas, assumiu a presidência da República.

O novo regime, dotado de poderes extraordinários por um acto institucional assinado em abril, proscreveu os partidos de oposição, particularmente os de esquerda, e cassou os direitos políticos de cerca de 300 pessoas. Uma lei aprovada em 1965 suprimiu as liberdades civis, ampliou o poder do governo e suspendeu as eleições gerais que seriam realizadas nesse mesmo ano.

O ex-ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva, candidato do partido governamental Aliança Renovadora Nacional (ARENA), foi eleito presidente em 1966. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), único partido de oposição legal, havia se recusado a apresentar um candidato em protesto ao veto do governo aos candidatos oposicionistas com maiores chances de vitória. Em agosto de 1969, caiu gravemente doente e em outubro o general Emílio Garrastazu Médici o sucedeu. Em 1974, o general Ernesto Geisel, presidente da Petrobrás, tornou-se presidente. Começava aí o lento e gradual processo de redemocratização do país, que, no entanto, foi interrompido com o chamado Pacote de Abril, que ele decretou em 1977. Geisel foi sucedido pelo também general João Baptista da Oliveira Figueiredo, que na época era ministro do Serviço Nacional de Informações.

Em 1985, Tancredo Neves foi eleito pelo Congresso e seria o primeiro presidente civil do Brasil em 21 anos, caso não adoecesse gravemente dias antes de sua posse. O vice-presidente, José Sarney, assumiu a presidência da República e, diante de uma grande inflação e uma enorme dívida externa, promoveu um programa de austeridade que incluía uma nova unidade monetária, o cruzado. Uma nova Constituição, a chamada Constituição Cidadã, foi promulgada em outubro de 1988. Uma das grandes inovações da constituição foi a decretação das eleições livres em todos os níveis. Em dezembro de 1989, Fernando Collor de Mello, do Partido da Reconstrução Nacional, de tendência conservadora, ganhou as primeiras eleições livres realizadas no país em quase 30 anos. Seu drástico programa antiinflacionário contribuiu para piorar a recessão do Brasil durante a década 1990, mas sua popularidade foi seriamente abalada devido às acusações de corrupção de que o seu governo foi vítima. Collor foi afastado do cargo de presidente da República e seus direitos políticos foram suspensos por oito anos. O vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidência.

Um plano para reestruturar a economia do país e reduzir a dívida externa do Brasil é colocado em prática em abril de 1994. Este plano, conhecido pelo nome de Plano Real, foi criado pelo então ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, o social-democrata Fernando Henrique Cardoso.

Em outubro de 1994, Fernando Henrique, candidato do Partido Social Democrático Brasileiro, disputou as eleições presidenciais com Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT). A campanha eleitoral foi marcada pela discussão de amplas reformas económicas e sociais. Fernando Henrique ganhou ainda na primeira volta. Ao ser eleito, Fernando Henrique apresentou uma série de reformas ao Congresso, cujo objectivo era redesenhar o estado brasileiro, até então muito presente em todos os sectores da vida nacional.

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